(I)
“Braços
doendo, aquela dorzinha boa do cansaço de briquitar com a terra.”
NETO, Euclides. A Enxada e a
mulher que venceu o próprio destino. 1996. pag. 11.
“O
homem é o lobo do próprio homem.”
Plautos
Quando
se estuda uma personagem como Albertina, excluída de todas as estâncias da
sociedade, o que podemos notar é a sustentação do lugar merecido, locus amoenus, nesse contexto restrito, da
mulher do campo. Há uma ideia explicita no texto de A Enxada que mostra as divisões sociais entre os indivíduos como desvantajoso,
até porque, “se o campo não planta, a cidade não janta”, dizem os militantes do
MST e da Via Campesina. Ademais, o que faz com que esses sujeito sejam agentes
modificadores no campo por vontade própria, além do amor à terra – como é o
caso de Albertina - é a desumanização, negação dos direitos de ir e vir,
negação ao direito básico e essencial à educação. A sociedade civilizada, limpa
– lê-se “higienista” – coloca-os às margens dos sistemas que os introduziriam à
níveis elevados de compreensão do seu próprio ser/estar no mundo. Se por um
lado é positivo estar de fora do sistema capitalista voraz da sociedade, por
outro, não se obtém direitos necessários a uma vida digna, pelo menos nos
modelos vigentes de dignidade onde se deve ter direito a moradia, saúde,
educação, etc. O Estado criado para defender os direitos dos menos favorecidos
hoje foge dessa premissa; criado para defender também os direitos individuais e
igualar os membros da sociedade, nada mais faz que perpetuar o conceito de
Plauto reformulado por Thomas Hobbes. Albertina é como a própria flora da
caatinga que também tenta jogá-la para fora, lutando para sobreviver em meio às
latentes adversidades existentes para ela e sua cria. É também a loba que
protege a cria, que alimenta todos e ainda mais àquele necessitado, como no
caso de Achado, recém-nascido incorporado à família após ser encontrado numa
caixa.
(...)