quinta-feira, 9 de maio de 2013

As relações existentes entre personagem, contexto histórico e habitat em A Enxada



(I)

“Braços doendo, aquela dorzinha boa do cansaço de briquitar com a terra.”
NETO, Euclides. A Enxada e a mulher que venceu o próprio destino. 1996. pag. 11.

“O homem é o lobo do próprio homem.”
Plautos

Quando se estuda uma personagem como Albertina, excluída de todas as estâncias da sociedade, o que podemos notar é a sustentação do lugar merecido, locus amoenus, nesse contexto restrito, da mulher do campo. Há uma ideia explicita no texto de A Enxada que mostra as divisões sociais entre os indivíduos como desvantajoso, até porque, “se o campo não planta, a cidade não janta”, dizem os militantes do MST e da Via Campesina. Ademais, o que faz com que esses sujeito sejam agentes modificadores no campo por vontade própria, além do amor à terra – como é o caso de Albertina - é a desumanização, negação dos direitos de ir e vir, negação ao direito básico e essencial à educação. A sociedade civilizada, limpa – lê-se “higienista” – coloca-os às margens dos sistemas que os introduziriam à níveis elevados de compreensão do seu próprio ser/estar no mundo. Se por um lado é positivo estar de fora do sistema capitalista voraz da sociedade, por outro, não se obtém direitos necessários a uma vida digna, pelo menos nos modelos vigentes de dignidade onde se deve ter direito a moradia, saúde, educação, etc. O Estado criado para defender os direitos dos menos favorecidos hoje foge dessa premissa; criado para defender também os direitos individuais e igualar os membros da sociedade, nada mais faz que perpetuar o conceito de Plauto reformulado por Thomas Hobbes. Albertina é como a própria flora da caatinga que também tenta jogá-la para fora, lutando para sobreviver em meio às latentes adversidades existentes para ela e sua cria. É também a loba que protege a cria, que alimenta todos e ainda mais àquele necessitado, como no caso de Achado, recém-nascido incorporado à família após ser encontrado numa caixa.

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sexta-feira, 26 de abril de 2013

Algumas Referências Bibliográficas




BAKHTIN, M. 1992 Estética da criação verbal. Trad. Maria Ermantina. Galvão Gomes Pereira. Martins Fontes.

BAKHTIN, M. (VOLOCHINOV) 1986 Marxismo e filosofia da linguagem.
Trad. Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. Hucitec.

BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1949.

BORGES, Jorge Luis. Esse Ofício do Verso. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

BOSI, Alfredo. Reflexões sobre a arte. Editora atica. Série Fundamentos, 1985.

BRADBURY, Malcolm. McFarlane, James. Modernismo: guia geral. Companhia das letras. 1890-1930.

CANDIDO, Antonio. et al. Direitos humanos. São Paulo.

DEMO, Pedro. Complexidade e aprendizagem – a dinâmica não linear do conhecimento. São Paulo ; Atlas, 2002.

EUCLIDES NETO. A enxada e a mulher que venceu o próprio destino. São Paulo: Littera, 1996.

GAY, Peter. A experiência burguesa da rainha Vitória a Freud. Volume 3: o cultivo do ódio. São Paulo: Companhia das Letras, 1988 – 1995.

LUKÁCS, Georg. A teoria do romance. Lisboa: Editorial Presença, S/D.

PAZ, Octávio. Signos em rotação. 2° Ed. São Paulo: Perspectiva, 1990.
_______________A Outra Voz. São Paulo: Siciliano, 1993.

RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 102ª ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Record,
2007.

Revista COTOXÓ. Ano III – N° XV – Agosto de 2010 – Jequié – BA

ROLNIK, Raquel. O que é cidade .3ª edição. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Editora Brasilense, 1998, pag. 53.

SCHÜLER, Donaldo. Intertextualidade in: Teoria do romance. Editora ática. Série fundamentos. 1989.

SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão. Tensões sociais e criação cultural na Primeira República. 4ª edição. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989, p.26.




sábado, 23 de março de 2013

Albertina: No tocante da terra

15



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Rasgada a barra do dia, já fora da ponta da rua, olhou o sol. Era por ali. Nascia à frente do rancho, lá na cascalheira. O rumo, aquele. Quantas marchas? Não sabia calcular. De carro viajara quase uma banda de dia. Dormira o tempo quase todo. Sabia da lonjura. Ali fazia muito frio, de tremer as carnes, bater os dentes, engrugir o couro. Sua ,
terra era morna como um rescaldo de goivara. Pra começar, começou. Cheia de carnes e desejos entrou no mato. Não queria o perigo dos caminhos forrados com o samborá de abelha, por onde corriam os bichos-caminhões. Preferiria os cerrados, gerais, caatingas, matos verdadeiros, conhecido.



NETO, Euclides. A Enxada e a mulher que venceu o próprio destino.

Paternalismo em A Enxada



Vanessa Caroline Silva Santos


 "(...) Tem mais, como a senhora é trabalhadora, pode abrir uma roça aqui, neste terreno fresco, melhor que o pedregulho da estrada. Do tamanho que suas forças derem.
NETO, Euclides. A Enxada e a mulher que venceu o próprio destino. pág, 14.



       Segundo Frei Betto (2006) “ter escapado da pobreza não é prêmio, é ter responsabilidade para com aqueles que não tiveram a mesma sorte”, nesse sentido, entendemos agora a função do autor no seu logos e no seu chronos como sujeito agente da mudança. Dessa maneira, seja no trabalho de base com os moradores da Fazenda Modelo ou com a personagem Albertina em A Enxada, mais uma vez ratifica-se o conceito de Candido sobre o papel do escritor para a sociedade.

        Entretanto podemos entender dois lados da moeda nesse romance. Por um lado temos Albertina com sua enxada – signo da sua luta no tocante à reforma agrária e que veicula também a sua quebra com o padrão “sapatinho de cristal” – e a terra dada pelo Seu Manduca para que ela lavorasse e vivesse do que fosse produzindo, o que nos leva a refletir sobre certa posição paternalista de Seu Manduca.

        Contextualizando, essa posição de poder se dá quando é dada a Albertina o direito de posse sobre um canto de terra sem cultivo onde a personagem monta acampamento. Isto seria também entendido como a ideia cerne da Reforma Agrária, mas com repercussões diferentes onde a “invasora” não é enxotada. Ou seja, implicitamente, podemos entender essa relação entre doador e beneficiado como uma relação de paternalismo onde não há nada de revolucionário no ato de Seu Manduca.

        Já foi dito aqui que Euclides Neto criou um projeto pioneiro, Fazenda Modelo, a fim de dar lugar para que o povo carente de um teto e um chão para lavrar pudesse sair dos contingentes de miséria da cidade de Ipiaú. Entende-se assim que o autor fez refletir em seu texto de A Enxada, com a personagem Albertina e Seu Manduca, as relações sociais que teve enquanto sua experiência com o projeto supracitado. Logo, partindo de um ponto de vista indutivo, podem-se elencar esses fatores que confirmam o paternalismo presente nas relações dos sujeitos ora citados no romance.






domingo, 3 de março de 2013

Apresentações de trabalhos




XVI Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica:



 "A mulher da enxada: a arte e o social", no dia 31 de agosto de 2012 na UESB/Jequié.




XVI Encontro Baiano dos Estudantes de Letras (comunicação oral): 


"A mulher da enxada: a Arte e o Social"

Dara: 7 de novembro de 2012 em Jacobina- BA.


 XV Encontro Regional do Estudantes de Letras (comunicação oral)

"A mulher da enxada: a Arte e o Social".


Eixo temático: Literatura Regional.


Data: 29 de março de 2013 em São Luís do Maranhão (UFMA)













I Colóquio Regional de Literatura, Gênero e Relações Étnicas (Comunicação Oral)

"A Mulher da Enxada: a Arte e o Social", no dia 11 de julho de 2013


Eixo temático: Representações Escritas e Visuais de Gênero e Etnia. (GRUPO I)
(coordenação: Profa. Dra. Adriana Abreu, Carmem Almeida).






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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Metodologia Aplicada à Pesquisa







Tratando-se da pesquisa também como bibliográfica, estão sendo utilizados textos teóricos que abordem a arte literária, teoria literária, teoria feminista, teoria e estrutura do romance, estudo dos movimentos sociais brasileiros e, em especial e como mais atenção, a obra do autor em estudo. Além disso, serão utilizados textos de Semiótica, interdisciplinaridade e intertextualidade.
A importância da inserção da Semiótica no estudo da obra de Euclides Neto bem como no romance “A Enxada” e da personagem Albertina dá-se justamente pelo caráter múltiplo de significados que este personagem pode ter dentro do romance. Semiótica, vale salientar, vem do grego semeion e significa signo. Logo, tanto a linguagem verbal quanto a não verbal estão nos domínios da semiótica como ciência de todos os signos. Sendo assim, a Semiótica como ciência de toda e qualquer linguagem e que tem como objetivo a investigação de todas as linguagens possíveis; que tenha por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e sentido. Assim, está sendo utilizado o signo o qual significa tudo aquilo que representa ou está substituindo alguma coisa, em certa medida e para certos efeitos.
Quando ao método, a investigação vem seguindo a linha do particular para o geral, numa relação de intertextualidade com a mescla de domínios diversos – literatura e suas teorias, análise de movimentos sociais e suas contribuições para o autor, história – caracterizando-se, portanto, numa ação de interdisciplinaridade e semiose.
Nesta segunda etapa da pesquisa a investigação iniciou-se pela análise dos movimentos sociais e pelo contexto de Reforma Agrária no contexto da obra juntamente com o embasamento teórico proposto.
Como planejado, os resultados parciais da pesquisa nesta segunda etapa foram utilizados em comunicações em eventos (EBEL/Jacobina 2012), bem como a elaboração de artigos relacionados à pesquisa, em andamento, para publicação. Os resultados parciais também estão disponíveis em blog (http://amulherdaenxada.blogspot.com.br/ ) para uma democratização e melhor acesso da pesquisa sobre esse autor tão caro a sua região e tão pouco conhecido entre os acadêmicos.
Fez necessário ainda alguns deslocamentos, como planejado, no âmbito UESB/Jequié para UNEB/Ipiaú onde se encontra vasto acervo bibliográfico do autor. É também onde vive e leciona o Prof. Vitor Hugo, pesquisador da obra de Neto e que se dispôs a ajudar com material teórico á pesquisadora. Por fim, a posteriori, pretende-se visitar a Fazendo-Modelo de Reforma Agrária.


Relação das obras de Euclides Neto


Por ano de publicação:


1. Porque o homem não veio do macaco;

2. Berimbau (1946);

3. Vida Morta (1947);

4. Os Magros (1961);

5. O Patrão (1978);

6. Comecinho do Paço Fundo (1979);

7. Os Genros (1981);

8. 64: Um prefeito, a revolução e os jumentos (A fábula do presidenciável Salém) (1983);

9. Machobongo (1986);

10. O Menino Traquino (1994);

11. A Enxada (1996);

12. Dicionareco das Roças de Cacau e Arredores (1997);

13. Trilhas de Reforma Agrária (1999);

14. O Tempo É Chegado (2001) - publicação póstuma.